luminosidade

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domingo, 16 de dezembro de 2012

poética


    quero um poema que pulse,
que seja incapaz de permanecer alheio
às dores estampadas nas filas de atendimento
dos postos de saúde,
que não permanceça impassível
diante dos olhos oceanos de carinho
de cada cão abandonado pelas ruas do Rio

que conheça o encanto das rimas
mas principalmente o calor dos encontros
sem medidas...
rabisco riscado no ônibus cheio,
o poema estará manchado de suores alheios

surto de sonhos semeados aos quatro ventos
veleiro em paisagens desconhecidas,
 quero um poema que seja um ser vivo...
e sem mais confiar em palavras traiçoeiras,
quero ser um poema.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

... você já sabia (ou canção para convencer a mim mesmo


No princípio era o verbo, e o verbo vicejou no vento
Agora sei que viver é sempre reencontrar
No princípio era a frase, esta se fez fada frágil ao relento
Vibrando poesia a cada dia 
ou noite, ao luar

Viver requer coragem,
Mas tenho certeza que disso você já sabia
Já desde antes se povoava de estrelas sua estrada
Pois a realidade não está completa sem poesia

E a respiração leve dos degredos
Nunca se interromperá, no lançando ao léu sob o luar
O poema não é mais que brinquedo
Que a viração desmancha ao brilho da lua sobre o mar

De modo algum a coragem exclui o medo
Mas ela o completa, como a chave acha o vão da porta
E a madrugada se insinua de brilhos mansamente
De modo algum a coragem exclui este segredo

domingo, 7 de outubro de 2012

ciranda dos predestinados





Foi assim: domingo de praia vazia e vento forte
o sorriso da maré se perdendo em brumas no horizonte...
depois que todos já tinham partido, todas as voz se calaram,
restou um pequeno calafrio

percorrendo o busto dourado da montanha

somente ficamos nós por ali...
não sabia que seria tão fértil assim este solo, a areia,
mas foi aqui mesmo que vi brilhar a mais bela das flores
ao mesmo tempo em calma quietude e intensa viração
veio romper a rotina, véu sagrado, coração criança...
a ciranda sem fronteiras dos predestinados
ao amor...

e muitas vezes nos encharcamos no sal iluminado da maré
batismo de uma nova existência, a esperança
e voltamos pra casa de roupa encharcada e alegria intensa
sou ilhéu, e você é magia.
sou náufrago de necessidades, você semente de manhãs futuras
ambos farelos de infinito
somos incompletos seres em busca da paz
no encontro

e emergi daquele encontro com a certeza
do sentido pleno deste voo: quero te ver sempre
existir do teu lado
Colibri de uma só Flor, Jardineiro de um só Futuro...


domingo, 2 de setembro de 2012

O que um poeta pode



Dentro ou fora de um pagode, esteja onde estiver
poeta é ser que sempre tudo pode... ousar o quando quiser.

estrelas pigmeias e anãs
no fundo da panela, depois de pintar olhos estalados
ou num altar de céu sem nuvens
e ainda por cima, o cara vai e deixa a estrofe sem rima

cometer cometas vivazes e velozes
astros suicidas mais rápidos que a luz
prometer provetas tenazes e atrozes
em poemas sombrios e alegres, tanto faz...

só não pode mesmo é renunciar à liberdade
deixar sua musa na mão
e como no mais tosco pagode, ele até pode
rimar tudo em "ão"...

domingo, 22 de julho de 2012

Voo Certeiro


                      

No encontro adiado pode não haver alegria imediata
mas temos em troca tudo o mais ...
inclusive alguma fé

no adeus improvisado, nem sempre o coração sangra e arde,
pode ter se recolhido na toca
onde em silêncio grita graves em ré...

impossível saber ao certo a distância que nos separa
anos-luz ou um piscar de olhos, qual é a diferença?
meus pés sempre prontos, pedem pra partir,
pra caminhar, veleiros de voo certeiro

porque a única certeza que agora semeio
é que o reencontro é visceralmente necessário...

domingo, 25 de março de 2012

Colheita



O que me faz livre esta capacidade de me desfazer em pó,
espantar o passado como se este não fosse mais que
um pássaro vagabundo
e varrer o quintal pra uma nova colheita,
pulverizar meu ser em poesia, em novos grãos...
para que outros corações garimpeiros
encontrem momentos de plena liberdade
no fundo de si mesmos...

Sempre que me recomponho, abro os olhos, junto os cacos da vida
mas não volto a mim, volto a nós,...
toda experiência de vida, a partir de agora, é companheira...
sonho compartilhado, mais do que real, irrecusável.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


A jóia é apenas minério, morto,
... sem mistério ...
até o momento de uma menina lhe dar alma,
.... vesti-la...
da mesma forma é nossa vida
vento vadio, sem valor
até que teu sorriso brilha
... nos banha de luz.